TERCEIRA ORDEM REGULAR
(TOR)
«Vendo o bem-aventurado Francisco que aquele convento de Greccio era humilde e pobre; e como a gente do lugar, apesar de muito simples e carecida de bens, era a sua preferida em toda a província, aqui vinha com frequência, umas vezes com mais demora, outras com menos. Além disso, havia lá uma cela que ele muito estimava, por ser pobre e solitária, da qual fazia o seu refúgio habitual. O seu exemplo, a sua pregação e a dos seus frades, levaram, com a graça de Deus, muitos habitantes a entrar na Ordem; muitas donzelas fizeram voto de virgindade, permanecendo entretanto nas próprias casas, vestidas de hábito religioso. Embora vivendo cada uma em sua casa, levavam vida comum, castigando o corpo com jejuns e orações, parecendo aos seculares e aos frades que o viver delas não se passava no meio do mundo e dos familiares, mas entre pessoas religiosas e santas, que de há muito servissem ao Senhor, embora elas fossem muito jovens e simples. Falando dos homens e das mulheres desta terra, dizia o bem-aventurado Francisco a seus frades: “Nem entre as grandes cidades há uma onde tantas pessoas se tenham convertido à penitência, como em Greccio, que é bem pequena terra”. À tarde, quando os frades cantavam os louvores do Senhor, como era costume fazerem naquele tempo em muitos conventos, os homens e mulheres daquela terra, grandes e pequenos, saíam de casa e, mesmo na rua, salmodiavam com os frades, acompanhando-os no refrão: “Seja louvado o Senhor Deus”. Até as crianças que mal sabiam falar, ao verem frades, louvavam o Senhor, como podiam» (Legenda Perusina, 34).
A Terceira Ordem Regular Franciscana (TOR) é como que um florescimento da Ordem Franciscana Secular ou Ordem Terceira de S. Francisco, que brotou primeiramente em Greccio, segundo a Legenda Perusina. Como já dissemos, a Ordem Terceira de S. Francisco ou Ordem Franciscana Secular teve o seu início, como organização religiosa, em 1221. S. Francisco deu uma norma de vida na Carta a Todos os Fiéis, mas especialmente com o documento jurídico, Memoriale Propositi do Papa Honório III e sobretudo com a primeira Regra, promulgada pelo Papa Nicolau IV, em 1289.
A TOR aparece no contexto de uma avidez de vida evangélica, que se difunde na sociedade da Europa central, em 132. Alguns irmãos da Ordem da Penitência, reúnemse e começam a levar um estilo de vida muito semelhante à dos frades da Primeira Ordem, tomando a designação de Ordem Terceira Regular ou, em latim, Tertius Ordo Regularis (TOR).
s sucessivos Papas acarinharam sempre este movimento de homens e mulheres que, à sombra dos conventos da Primeira Ordem e no estilo da Ordem Terceira de S. Francisco, vivem em comunidade, observando vida religiosa de clausura e emitindo os três votos de pobreza, obediência e castidade.
No século XIV uma bula do Papa Bonifácio IX autoriza os Irmãos e Irmãs da diocese de Utrecht a celebrar o seu Capítulo Geral. Uma precursora das Congregações Franciscanas modernas foi a Beata Angelina de Marsciano (+ 1435), que fundou uma série de mosteiros de vida franciscana da Ordem Terceira Regular.
Em 20 de janeiro de 1521, o Papa Leão X aprova a primeira Regra escrita especialmente para a Ordem Terceira Regular, o que faz que estas Congregações masculinas e femininas de vida regular franciscana deixem de estar obrigadas à observância da Ordem Terceira de São Francisco ou Ordem Franciscana Secular. Enquanto muitas destas Congregações se dedicavam à vida contemplativa, muitas outras exerciam atividades sócio-caritativas, muito apreciadas pelas autoridades civis.
Além de outras reformadoras e fundadoras, a que mais se realçou foi Santa Jacinta de Mariscotti (+ 1640), que, após vida secular descuidada, se converteu e exerceu, a partir do mosteiro de Viterbo, uma grande influência espiritual.
No século XVIII, a Revolução Francesa e, no século XIX, as supressões liberais, extinguiram quase totalmente a Terceira Ordem Regular Franciscana. Porém a divina Providência tinha novos desígnios sobre a Vida Religiosa. De facto, em fins do século XVIII, para responder às necessidades sociais provocadas pela revolução industrial e para levar a mensagem evangélica a todo o mundo, floresceu, um pouco por toda a Europa, talvez o maior movimento de vocações religiosas de toda a história da Igreja.
O Papa Bento XV, em 1921, escreveu uma carta ao Ministro Geral da TOR, exprimindo o seu desejo de unificar todos os mosteiros masculinos e femininos, mas este anseio do Papa fracassou.
Por sua vez, Pio XI, com a bula Nova Conditio, promulgou em 4 de outubro de 1927, a nova Regra para a Terceira Ordem Regular, que determinava a base canónica não só dos regulares, mas também de todas as congregações franciscanas masculinas e femininas.
Depois de um longo trabalho, o Papa João Paulo II promulgou, em 8 de dezembro de 1982, a nova Regra e Vida dos Irmãos e Irmãs da Terceira Ordem Regular de São Francisco.
Atualmente, quer ligados à TOR, quer à OFS, quer canonicamente autónomos, existem em todo mundo cerca de 180 institutos religiosos franciscanos.
Nos nossos dias, o ramo masculino da TOR anda pelos mil irmãos. O número das Congregações e de Irmãs da TOR franciscana é muito elevado e podemos dizer que conta com algumas centenas de milhar de religiosas. Em Portugal, estas Congregações estão federadas na Família Franciscana Portuguesa, e são exclusivamente femininas, como de seguinte se indicam:
- Franciscanas Missionárias de Maria, fundadas em França, pela Beata Maria da Paixão, em Nantes, em 21 de maio de 1839;
- Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, que têm como fundadores a Irmã Maria Clara do Menino Jesus e Frei Raimundo dos Anjos Beirão, da TOR, em Lisboa, em 1871;
- Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, fundadas, na Madeira, pela Irmã Maria Wilson, de origem inglesa, convertida ao catolicismo;
- Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, fundadas pela Madre Louise Mabille, em Calais, França, em 1854;
- Franciscanas da Mãe do Divino Pastor, fundadas pela beata Maria Ana Mogas Fontcuberta, Catalã, em Madrid, em 1872;
- Franciscanas de Nossa Senhora das Graças, fundadas pela Irmã Maria das Graças Rosa, em 25 de março de 1878;
- Franciscanas de Nossa Senhora do Bom Conselho, fundadas pela Madre Maria Rodon Asensio, em Astorga, León, em 25 de março de 1978;
- Fraternidade Franciscana da Divina Providência, fundada em 25 de março de 1942, pela Irmã Ana Maria de Jesus Faria Amorim.
- Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado.
- Franciscanas Concepcionistas ao Serviço dos Pobres.