05 Mar Carta do Santo Padre
Carta do Santo Padre ao Enviado Especial às celebrações do VIII centenário do encontro entre Francisco de Assis e o Sultão Al-Malik Al-Kamel [Egito, 1-3 de março de 2019]
“Não ceder à violência, principalmente sob pretexto religioso, mas promover a paz e o diálogo”: são palavras do Papa em uma Carta ao cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, seu enviado especial às celebrações dos 800 anos do encontro entre São Francisco de Assis e o Sultão.
No dia 28 de fevereiro passado, foi publicada uma Carta (em latim) do Papa Francisco ao cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, seu enviado especial às celebrações dos 800 anos do encontro entre São Francisco de Assis e o Sultão Al-Malik Al-Kamel, que tiveram lugar nos dias 1 a 3 de março corrente.
O Papa lembra o “homem de paz” que foi Francisco de Assis, e que, – escreve o Papa – “tinha entendido com o coração que todas as coisas foram criadas por um só Criador, o único que é bom”, e que Ele “é um Pai comum para todos os homens”. Por isso, “desejava levar a todos os homens, com espírito jubiloso e fervoroso, a notícia” do amor indizível de “Deus Todo Poderoso e Misericordioso que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,3-4)”. O mesmo Francisco de Assis e da Paz que incentivou os seus frades a irem, sem temor nem espírito de contenda, ao encontro dos sarracenos e dos não cristãos, inspira agora a Igreja a continuar pelo caminho da paz entre as religiões e os povos.
De facto, o próprio Francisco – como recorda o Papa – junto com seu coirmão, Frei Iluminado, partiu para o Egito em 1219. Em Damieta, ao norte do Cairo, encontrou o Sultão Al-Malik Al-Kamil. Quando esse lhe perguntou ao que vinham e em nome de quem vinham, “o servo de Deus Francisco, respondeu com o coração intrépido que não tinha sido enviado pelos homens, mas por Deus Altíssimo, para mostrar a ele e ao seu povo o caminho da salvação e anunciar o Evangelho da verdade”. E chefe dos Sarracenos, que era também um homem de bem, ao ver o admirável fervor de espírito e a virtude daquele enviado de Deus, “escutou-o de boa vontade” (São Boaventura, Legenda Maior, 7-8).
Na senda deste encontro profético em Damieta, o Santo Padre encoraja o cardeal Sandri a levar a sua “saudação fraterna” a todos, cristãos e muçulmanos, augurando que ninguém caia na tentação da violência, principalmente “sob algum pretexto religioso”, mas antes se promovam e realizem “projetos de diálogo, de reconciliação e de cooperação” que “levem os homens à comunhão fraterna” difundindo a paz e o bem segundo as palavras do profeta Isaías: “Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se arrastarão mais para a guerra”.
Sua Santidade o Papa Francisco conclui a carta abençoando todos os participantes deste “memorável evento” e “todos os promotores do diálogo inter-religioso e da paz”.
EPISTULA DATA
LEONARDO S.R.E. CARDINALI SANDRI
Venerabili Fratri NostroLeonardo S.R.E. Cardinali Sandri
Praefecto Congregationis pro Ecclesiis Orientalibus
Beatus ille vir pacificus, sanctus Franciscus Assisiensis, qui etiam sodales suos docuit omnibus occurrere cum salutatione: “Dominus det tibi pacem” (S. Franciscus, Testamentum, 23), corde suo bene intellexit universa creata ab uno provenisse Creatore, qui unus est Bonus, omnesque homines in Ipso unum communem habere Patrem. Ideo de omnipotentis et misericordis Dei, “qui omnes homines vult salvos fieri et ad agnitionem veritatis venire” (1 Tim 2,3-4), ineffabili amore notitiam cunctis hominibus et ubique laeto ardentique animo afferri cupiebat.
Hanc ob rationem praescripsit in Regula: quicumque fratrum divina inspiratione voluerint ire inter Saracenos et alios infideles, idoneos mittendos esse. Sed ipse quoque multis se periculis constanter exposuit, ut Soldani Babyloniae posset adire praesentiam. Assumpto igitur socio fratre, Illuminato nomine, mox a Saracenis ad Soldanum, divina disponente providentia, perducti sunt. Cui intrepido corde respondit Christi servus Franciscus, non ab homine, sed a Deo altissimo se fuisse transmissum, ut ei et populo suo viam salutis ostenderet et annuntiaret Evangelium veritatis. Soldanus admirandum in viro Dei fervorem spiritus conspiciens et virtutem, libenter ipsum audiebat (cfr S. Bonaventura, Legenda maior, 7-8).
Cum ergo Venerabilis Frater Bruno Musarò, Archiepiscopus titulo Abaritanus, Nuntius Apostolicus in Aegypto, certiores Nos fecerit de sollemni commemoratione miri occursus octo ante saecula inter sanctum Franciscum Assisiensem et Al-Malik Al-Kamil, idemque postulaverit ad huiusmodi faustae recordationi maius pondus tribuendum ut quendam Patrem Cardinalem illuc mitteremus, Nos eius propositum prorsus laudamus et comprobamus. Idcirco libenter mentem Nostram fidentes ad te convertimus, Venerabilis Frater Noster, qui Congregationi pro Ecclesiis Orientalibus diligenter praees. Ideo hisce Litteris Nostrum Missum Extraordinarium te nominamus; diebus igitur I-III mensis Martii in Aegypto rite ages vices Nostras, liturgicis celebrationibus Nostro nomine praesidebis Nostramque fraternam cunctis significabis salutationem, cum Christianis tum Muslimis.
Dum autem exoptamus ut nemo ad vim violentiamque descendat, potissimum sub religionis aliquo praetextu, sed potius Pax et Bonum hominibus communicetur, ac prophetica illa verba expleantur: “Non levabit gens contra gentem gladium, nec exercebuntur ultra ad proelium” (Is 2,4), eo magis omnia dialogi, reconciliationis vel cooperationis incepta laudamus quae homines ad fraternam ducunt communionem. Amanter ergo complectimur eos qui sedulo faustam octingentesimam anniversariam recordationem singularis illius occursus paraverunt, videlicet civiles religiososque praefectos, sodales Ordinis Fratrum Minorum Provinciae Sanctae Familiae in Aegypto et Custodiae Terrae Sanctae, sorores Congregationis Franciscanarum a Corde Immaculato Mariae necnon auctoritates et studentes Islamicae Academiae Al Azhar in Nasr City Cairi.
Ideo Nos legationem tuam, Venerabilis Frater Noster, precibus Sanctae Familiae et sancto Francisco committimus et Nostram Benedictionem Apostolicam supra dictis aliisque participantibus hunc memorabilem eventum cunctisque dialogi inter religiones et pacis fautoribus tamquam Nostrae benevolentiae signum ac divinae gratiae pignus largiter elargimur.
Ex Aedibus Vaticanis, die XXVI mensis Februarii, anno MMXIX, Pontificatus Nostri sexto.
Franciscus
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