27 Set Pacto de Assis por uma Nova Economia
Frei Hermínio Araújo
A cidade de Assis, na Itália, acolheu, nos dias 22 a 24 de setembro de 2022, 1000 participantes de 100 países, num evento intitulado «A Economia de Francisco», uma Comunidade Profética, assim se apresentaram. Tudo começou no dia 1 de maio de 2019, com o convite do Papa Francisco aos jovens economistas e empresários para um evento em Assis, com a finalidade de desencadear processos que proporcionem uma economia diferente: “que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a devasta”. Este evento foi agendado para os dias 26 a 28 de março de 2020, mas não se realizou por causa da pandemia, facto que ajudou a transformar «A Economia de Francisco» num movimento.
Jovens de muitos países acolheram o desafio do Papa: desenvolver uma nova economia, tendo como referência principal São Francisco de Assis. O que está em causa é uma economia de fraternidade ao serviço do bem comum. Este processo foi celebrado em dois encontros internacionais sobretudo online, em novembro de 2020 e em outubro de 2021. O Papa Francisco esteve presente nestes encontros com duas mensagens muito significativas, sobretudo como estímulo para a consolidação do processo em curso. Em Portugal, os jovens envolvidos neste movimento já são algumas dezenas, e também estiveram há dias em Assis.
O que não aconteceu em 2020 foi agora possível: a felicidade de estar juntos, jovens de vários continentes, já envolvidos neste movimento desde 2019. Este evento de Assis proporcionou aos presentes a participação em conferências com importantes referências na investigação e intervenção ativa em diversas áreas. O contacto com alguns lugares habitados por São Francisco foi também muito inspirador, assim como os “testemunhos fortes e acutilantes de jovens, de todo o mundo, com experiências, conhecimentos, dificuldades e alegrias tão diversas”, partilha uma jovem portuguesa que participou no encontro. O Papa Francisco também esteve presente, com a sua alegria evangélica e a sua palavra certeira.
O discurso do Papa no dia 24 de setembro, em Assis, precisa de um estudo aprofundado, pela sua capacidade crítica, por nos ter posto a todos no caminho dos profetas bíblicos, por denunciar formas insustentáveis de ser e de viver em sociedade, por nos voltar a apresentar São Francisco de Assis como referência fundamental, por nos estimular a andar para a frente sem qualquer tipo de receio… Termina o seu discurso com três orientações: 1. olhar o mundo com os olhos dos mais pobres; 2. não esquecer a realidade do trabalho e dos trabalhadores (“não vos esqueçais de criar trabalho, bom trabalho e trabalho para todos”); 3. ter sempre presente que a realidade é superior à ideia (“a incarnação”, “relação cabeça, coração, e mãos”).
O «Pacto por uma Nova Economia», assinado pelo Papa e pelos jovens reunidos em Assis, no final do evento, é uma boa síntese do caminho percorrido e do compromisso de todos os que integram o movimento «A Economia de Francisco».
PACTO POR UMA NOVA ECONOMIA
Nós, jovens, economistas, empreendedores, agentes de mudança, chamados aqui a Assis de todo o mundo, conscientes da responsabilidade que pesa sobre a nossa geração, comprometemo-nos agora, individualmente e todos juntos, a gastar as nossas vidas para que a economia de hoje e de amanhã se torne uma Economia do Evangelho.
Portanto:
uma economia de paz e não de guerra,
uma economia que cuida da criação e não a saqueia,
uma economia ao serviço da pessoa, da família e da vida, respeitosa de cada mulher, homem, criança, pessoa idosa e sobretudo dos mais frágeis e vulneráveis,
uma economia onde o cuidado substitui o desperdício e a indiferença,
uma economia que não deixa ninguém para trás, para construir uma sociedade em que as pedras descartadas pela mentalidade dominante se tornem pedras angulares,
uma economia que reconheça e proteja o trabalho digno e seguro para todos, especialmente para as mulheres,
uma economia onde as finanças sejam amigas e aliadas da economia real e do trabalho e não contra eles,
uma economia que saiba valorizar e preservar as culturas e tradições dos povos, todas as espécies vivas e os recursos naturais da Terra, que combata a pobreza em todas as suas formas, reduza as desigualdades e saiba dizer “Bem-aventurados os pobres”,
uma economia guiada pela ética da pessoa e aberta à transcendência,
uma economia que crie riqueza para todos, que gere alegria e não apenas bem-estar, porque a felicidade não partilhada é muito pouco.
Acreditamos nesta economia. Não é uma utopia, porque já a estamos a construir. E alguns de nós, em manhãs particularmente claras, já vislumbramos o início da terra prometida.
Assis, 24 de setembro de 2022
Economistas, empresárias e empresários, agentes de mudança, estudantes, trabalhadoras e trabalhadores
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