Vocações

A vocação do frade menor

 

“Esta é a nossa vocação e a nossa razão de ser na Igreja e no mundo: Os irmãos são chamados por Deus para o seguimento das pegadas de Jesus Cristo, vivendo em fraternidade, segundo a forma de vida de São Francisco, como fraternidades evangelizadoras”(SCHALÜCK, 1996, p. 7,1-2; RnB, 1,2).

Seu modo de vida se transformou radicalmente: nas idéias e sentimentos, nas vestes e no comportamento” (Lm 2,1).

Nas Constituições Gerais da Ordem dos Frades Menores 1987, a vocação franciscana é anunciada à luz do meio-dia: “A Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco de Assis, é uma fraternidade na qual os irmãos, seguindo a Jesus Cristo mais de perto e sob a ação do Espírito Santo, consagram-se, pela profissão, totalmente a Deus, o sumo bem, vivendo o Evangelho na Igreja, segundo a forma observada e proposta por São Francisco” (Art. 1,1).

A longa tradição franciscana e os documentos mais recentes e antigos da Ordem não hesitam em afirmar que nossa vocação é a de seguir integralmente a Cristo. A nossa forma vitae é “observar o santo o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade” (RB I,1). Nossa vocação, por isso, não tem outro programa de vida, mas se firma e afirma como seguimento a Cristo pobre e despojado, divino e humanizado, o Jesus, Salvador de todas as criaturas. Assim, a definição fontal de uma vida franciscana se resume nas palavras de São Paulo: “Para mim, viver é Cristo” (Fl 1,21); ou “já não sou eu quem vive, mas é Cristo quem vive em mim” (Gl 2,20).

Na base deste encantamento vocacional já não existem perguntas para uma definição, mas tão-somente respostas para uma adesão e confirmação mais superlativas. A qualquer irmão e a todos eles, indistintamente, pede-se apenas que saibam ler e amar o livro chamado Jesus, porque Jesus é a palavra que devem entender e a vida que mais prezam e desejam partilhar com todas as pessoas. Nenhum outro projeto, por conseguinte, pode tomar o lugar de Cristo. Cristo é a forma minorum, o projeto matriz da vida franciscana, e os seguidores de São Francisco são arautos do Grande Rei, a ele pertencendo e confessando numa aliança de vida e morte.

Além de ser de Cristo e viver para Cristo, os frades são irmãos entre si e vivem em fraternidade. A vocação franciscana lhes confere um título: o glorioso título de irmãos. O franciscano quer, por vocação, ser irmão de seus irmãos e viver como irmão de todas as criaturas. Fraternidade e comunhão são, na vida franciscana, termos casados, e, por isso, ninguém pode ser frade sozinho, na solidão de uma caverna ou no alto de uma montanha, em ruptura com os outros. Tal fraternidade não é constituída de chefes ou senhores, abades ou priores, mas nela todos têm o mesmo caráter, ou seja, a graça de serem simplesmente irmãos menores em missão. O serviço maior que podem prestar é o de lavar os pés dos que, com eles e como eles, participam da mesma mesa material ou eucarística e da mesma missão evangelizadora. O maior pecado que poderiam cometer contra a forma vitae franciscana seria, por conseguinte, o de ofender, por desprezo ou rejeição, esta destinação comum e este chamamento abençoado por Deus.

Essa fraternidade, no entanto, não vive encapsulada em si mesma. As CCGG de 1997 destacam que ela se expressa como fraternidade-em-missão, procurando repassar às gerações futuras a herança recebida. Esta herança consiste em “levar uma vida radicalmente evangélica, em espírito de oração e devoção e em comunhão fraterna, dando testemunho de penitência e minoridade e anunciando o Evangelho ao mundo inteiro e, por obras, pregar a reconciliação, a paz e a justiça” (Art. 1,2).

Conseqüentemente, os frades anunciarão o Evangelho, dando, por sua pureza e qualidade, significado e visibilidade a seu modo de viver. Não são apenas eloqüentes pregadores de um novo caminho, mas, sim, peregrinos itinerantes e seguidores de uma pessoa. Em virtude deste ideal, eles tem, à imagem de Cristo, mãos e pés traspassados e um coração ferido de amor pela salvação do mundo. A vocação franciscana será essencialmente reconhecida pelo testemunho de vida. Sem esta caridade evangélica, vãos seriam os esforços dos frades e desfocada estaria sua forma vitae. Como Província, nossa vocação se realiza dentro da Igreja, do mundo e no interior de nossas fraternidades. Ali, ela se alimenta e toma corpo. E porque, como Cristo, queremos viver sem as lantejoulas da glória e do poder, mas só fazendo a vontade do Pai, nossa vocação deverá ter o apanágio do serviço gratuito, encontrando na evangelização sua cruz e sua glória.