01 Out Solenidade de São Francisco de Assis – 2018
A Solenidade de São Francisco de Assis, neste ano de 2018, coincide com o início do Sínodo dos Bispos, convocado pelo Papa Francisco, sob o tema: “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Parece que, finalmente, a Igreja despertou para tão sério assunto: os jovens, num momento em que, pelo menos na Europa, a Igreja parece caminhar desfasada dos jovens.
É triste e preocupante, como reconhece o Papa Francisco, «que os jovens questionem a Igreja: “Não vos dais conta de que já ninguém vos escuta, nem crê em vós?”». É triste constatar que «grande parte da juventude não pede nada aos católicos porque não os consideram interlocutores significativos na sua existência. Indignados com os escândalos económicos e sexuais da Igreja, muitos abandonam o seu lugar e vocação, outros que deveriam ir embora, mudam apenas de lugar. Depois, há os que encontram nos pecados dos outros, justificação para não darem o passo da conversão, ou não perseverarem fielmente na palavra dada no dia do batismo ou da profissão religiosa e sacerdotal.
Muitas vezes, continua o Papa Francisco, «as comunidades cristãs fecham-se e não escutam as inquietações dos jovens. E Igreja e jovens caminham num diálogo de surdos, com a primeira impenetrável às preocupações dos segundos, mantendo imperturbável a sua rota».
São Francisco de Assis em quem o papa Francisco se inspira no seu esforço evangélico de renovação da Igreja, foi um jovem que viveu intensamente o seu tempo, sem deixar de procurar manter vivos os sonhos, até que descobriu que os seus sonhos não eram só seus, mas eram também os de Deus e os de tantos outros homens que não se deixam envelhecer no coração.
Num tempo em que, como hoje, a Igreja e o mundo pouco parecia preocupada com os mais jovens; num século em que as linguagens e as orgânicas eclesiais se mantinham distantes dos mais pequenos, Francisco aceitou o desafio de renovar a Igreja por dentro. É por isso que ele continua tão próximo de nós e tão amado pelos jovens. Hoje como no tempo do Poverello, Deus pede aos filhos de S. Francisco que sejam fiéis ao mesmo apelo: “Vai reparar a minha casa!” E quanto necessitada está a “casa” de ser reparada, renovada, talvez até “refundada”.
O celebração da festa de S. Francisco é uma ocasião propícia para o imitarmos em seu “trânsito”, voltando a pôr os pés na terra, senão mesmo todo o corpo, para anoitecermos como o crepúsculo prenhe de auroras ou o grão de trigo que não quer ficar só.
Como diz o poeta,
«Há momentos que fazem pensar.
Ao crepúsculo, por exemplo, o corpo, as formas e todas as imagens devagarosamente se perdem esbatidas.
A essa hora ninguém sabe se na alma há lucidez ou sono.
O crepúsculo, a prima hora noctis, convida à nudez.
A paisagem prepara o grande festim onde os seres têm lugar para uma pausa de mansidão. Dá-se o encontro sem direito nem avesso.
A abertura ao desconhecido e aos segredos do anoitecer é uma vocação íntima. Francisco de Assis morreu em 1226, ao entardecer do dia 3 de outubro. Com o seu próprio corpo quis sentir e medir a terra. Com a nudez estrita se deitou nela» J. Alberto de Oliveira – Isidro Lamelas
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