09 Dez IMACULADA CONCEIÇÃO – 8 de Dezembro 2019 – Igreja do Convento da Luz
Frei Armindo Carvalho, Ministro Provincial, presidiu à Eucaristia festiva da Solenidade da Imaculada Conceição, Padroeira de Portugal, da Ordem Franciscana e desta Fraternidade Franciscana da Imaculada Conceição à Luz, cuja igreja completou hoje 51 anos.
A Homilia que proferiu:
Fraterna saudação a todos os presentes. Paz no Senhor. Hoje é um dia especial para todos nós e para quantos, por este mundo de Deus, recordam a Mulher Imaculada, a “cheia de graça”, a Senhora vestida de sol, a jovem de Nazaré, pouco conhecida dos homens, mas eternamente conhecida e amada de Deus; por Ele concebida e criada com a missão de colaboradora no mistério da redenção e da nova criação; escada para o descimento e abaixamento de Deus; carne humana para a carne humano/divina; serva disponível para assumir o projecto de Deus… enfim, a mulher Imaculada, a única assim concebida.
Mestra é Maria, na sinceridade do coração, na disponibilidade total para escutar e na humildade da escrava. Ela pergunta para escutar melhor. Deixa que a semente lançada pelo Anjo no seu coração cresça, a fim de responder com liberdade e alegria ao que deseja de todo o coração: fazer a vontade de Deus: Fiat.
“Maria, primeiro acredita, depois é iluminada e vê” (S. Agostinho).
“Cheia de graça” é o nome mais bonito de Maria. Foi-lhe dado pelo próprio Criador, através do Arcanjo, indicando que Ela é, desde sempre e para sempre, a amada, a eleita, a predestinada para acolher o dom do “amor encarnado de Deus”. Sois toda bela, ó Maria! Em Vós se fez carne a Palavra de Deus. Em Vós está a alegria plena da vida bem-aventurada com Deus. Sois para nós o rosto de beleza do amor misericordioso de Deus em Jesus, teu Filho.
Aqui neste templo, casa de oração dedicado à Imaculada Conceição, a Quem é também dedicado todo o conjunto envolvente do Seminário da Imaculada Conceição, celebramos o dom de Deus em Maria Imaculada, neste templo que completa já 51 anos de vida e serviço ao Povo de Deus. Uma obra saída da sensibilidade franciscana, no tempo em que Lisboa contava já oito séculos de “cidade franciscana”, cidade natal do nosso Irmão mais ilustre, Frei António de Lisboa, o nosso Irmão Santo e o Santo do mundo. Casa de oração da fraternidade franciscana que aqui vive e ponto de encontro com os demais membros desta Família, bem como de toda a Igreja, dos que, diariamente, aqui alimentam a sua fé com a Palavra e o Pão de Deus.
Um templo nascido da santa teimosia franciscana, inspirado na intuição evangélica do seu fundador, S. Francisco, ambicionando, assinalar a ligação do passado com o futuro, do ontem com o hoje da arte humana e eterna, presente de Deus aos homens, e integrado no movimento artístico renovador e veloz da época.
Na Liturgia sagrada vivemos o tempo do Advento, com Maria a sua Mãe. Mulher da escuta e da contemplação, Maria guia-nos neste novo Advento de Deus à terra dos homens. O Anjo procura-a no espaço onde ela estava, no dia-a-dia da vida. No seu coração e no seu corpo virginal tinha espaço para Deus. Acolhe-O com fé e alegria. Diz-nos que Deus nos procura e deseja habitar no nosso espaço de vida. Diz-nos que o Natal de Deus é um dom; é Ele, por iniciativa de amor, que se oferece e vem. Não inventamos nada, mas acolhemos com alegria e gratidão o Dom do Alto, do Pai das Luzes.
Maria caminha connosco neste Avento. A sua presença é um sinal da consolação de Deus, que nos encoraja, e alegra a nossa esperança. Ela nos diz: “tem a coragem de ousar com Deus. Tenta! Não tenhas medo dele! Compromete-te com Deus e verás a tua vida iluminada”.
Um Advento com Maria, a Imaculada Conceição.
Ela ensina-nos a esperar. Um esperar activo, pois envolvido em alegre certeza: Ele já veio, já está connosco para sempre, mas virá ainda de novo. Esperar quem já veio e não voltou mais, despedindo-se, mas permanece eternamente connosco, na nossa carne e na nossa vida, sendo companheiro de viagem, palavra clara que guia e pão que alimenta… tudo é Dom. E cada vinda é uma prenda para nós.
Para a Família Franciscana, a piedade mariana não é uma devoção secundária, mas uma veneração integrada e enraizada na mística da Família. Nas suas mãos (Senhora dos Anjos da Porciúncula) teve o seu berço. É o lugar privilegiado da Família: “Depois de Cristo, era em Maria que Francisco depositava toda a confiança e por isso a escolheu para Padroeira para si e para os seus irmãos” (L.L.9,3). As festividades marianas são celebradas com grande solenidade na Família Franciscana. Assim se compreende que, desta Família, músicos e poetas tenham dedicado os seus talentos à Mãe de Cristo. S. Boaventura, contemporâneo de S. Francisco e Ministro Geral da Ordem, Beato João Duns Escoto e, mesmo o nosso Santo António, já defendiam o privilégio da Imaculada Conceição quatro séculos antes da sua proclamação oficial pela Igreja. Pregadores franciscanos propagaram, com convicção, pelo povo cristão, os privilégios de Maria. Foram eles que introduziram e popularizaram a Festa da Visitação, introduziram a oração do “Angelus” e acrescentaram na Ave Maria (saudação do Anjo Gabriel) a prece “rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”. Fizeram de Maria a acompanhante maternal da nossa peregrinação terrena para o Reino do Seu Filho.
Contemplemos esta Mulher de Deus, com Deus feito pessoa na sua carne. Os seus braços são como escada sobre a qual o Filho de Deus desce para junto de nós, escada do acolhimento e carinho. Por ela “Cristo assemelhou-se em tudo aos seus irmãos para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e fiel em relação a Deus” (Heb. 2,7). A seu tempo, Maria entra no templo com o Menino ao colo. Caminha. Mas, antes dela, é o Filho que caminha. E é o Filho que leva a mãe neste caminho de Deus, “o caminho novo e vivo” (Heb. 10,20) que é Ele próprio: O único caminho, concreto e sem alternativas, que temos para percorrer, sempre inundado de alegrias e esperanças, mas que nos garante a Vida na Casa do Pai. Passa necessariamente pelo rebaixamento, como Jesus, que “não considerou como usurpação ser igual a Deus, mesmo no rebaixar-se e ser servo” (Filip. 2,6). Jesus e Sua Mãe Imaculada estão juntos. Não se pode compreender Jesus sem a sua Mãe! É como a Igreja-Mãe: a que apresenta, celebra, incarna Jesus e o apresenta a todos com alegria e generosidade. A Mãe-Igreja guarda e celebra este Menino, salvação para todos. Maria é Aquela que abre o caminho desta maternidade da Igreja, que a todos gera como a grande família dos filhos de Deus, a bendita entre todas as mulheres.
Maria, Senhora Imaculada, permite-nos que entremos, com o Anjo. em tua casa.
Ouvimo-Lo dizer-te “cheia de graça” e não “cheia de méritos”,
apenas rica da gratuidade amorosa de Deus.
Sim, diante de Deus não conta o melhor, o primeiro,
o título, o cartão visa, a influência.
Conta apenas o amor, a disponibilidade, a simplicidade, a humildade, a docilidade que se deixa conduzir pelo sopro do Espírito.
Tu és escolhida por Deus desde toda a eternidade:
Aquela que deslumbra Deus na Sua própria obra.
Em Ti, a criação se faz de novo, e Deus exulta ao ver que é bela.
A beleza de Deus faz-se beleza em Ti.
Sinto palpitar a tua escuta,
dentro de ti, aquele labor entre a graça e o acolhimento,
manifesto num medo misterioso misturado de alegria.
Eis-me! Faça-se!
O teu querer confunde-se com o de Deus.
Tu, Maria, és toda de Deus.
A imensidão de Deus escancara-se na tua pequenez e juventude.
De Ti o Criador fez a Sua Mãe e a nossa Mãe.
És a serva do Amor. De teu ventre brotará o Verbo Eterno.
És o ventre da nova humanidade.
O teu Sim é a Primeira Letra do Novo e Eterno Evangelho,
a Boa Nova do Amor que “não era amado”! (S. Francisco).
Louvor a Ti, Deus da Vida, pelo dom de Maria,
Tua e nossa Mãe Imaculada.
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