12 Jun Santo António: o primeiro franciscano português e universal
“Defensor da fé, lume da Igreja, maravilha de Itália, honra de Espanha, glória de Portugal, o melhor filho de Lisboa, o querubim mais eminente da Religião seráfica” Pe. António Vieira, Sermões, VII, 145). Assim o quilifica o incomparável orador jesuíta, apresentando, em poucas palavras, as facetas fundamentais do Santo: o servidor da fé, o homem europeu, a referência fundamental da cultura e tradição lisboeta, o grande luminar da Ordem Franciscana, o primeiro “Doutor da Igreja” português…
O exemplo revolucionário do Pobrezinho de Assis, convenceu-o a “saltar” os muros” de S. Cruz, a deixar a regra de Agostinho, a transpor as fronteiras terrestes marítimas, para se fazer irmão de todos e missionário das Gentes. É o primeiro português universal, o primeiro a ir mais além, o pioneiro da aventura marítima e missionária dos futuros portugueses. Portugal nasce, assim sob o signo da presença inspiradora de S. Francisco e de S. António.
O Padre António Vieira fala dos “cinco movimentos muito particulares” de António:
– “Mudança de religião (isto é, passagem de cónego regrante a franciscano);
– “Mudança de pátria (deixar Portugal para ir em missão, deixando talvez também a vida);
– “Embarcar-se e meter-se ao mar”;
– “Dedicar a vida à conversão dos povos”
– “Partir para Itália para em serviço e obediência ao Vigário de Cristo”. (Sermões, VII,65).
- António saiu da Pátria, continua o Pe. António Vieira: “saiu como luz do mundo e saiu como português. Sem sair ninguém pode ser grande, e porque era grande, saiu” (ibid. 68). Portugal era, então, “um cantinho ou um canteirinho da Europa… Foi António que lhes abriu e mostrou o caminho do sol… Assim António, e assim os portugueses… Deixa António a terra, engolfa-se no Oceano, e começa a navegar, levando o pensamento e a proa na África, que também foi a primeira derrota, e a primeira ousadia nos nossos argonautas… Porque o caminho que fizeram os portugueses, era caminho que ainda não estava feito. Por mares nunca dantes navegados, Deus abriu caminho aos portugueses e os portugueses abriram às outras nações” (Ibid. 71-72).
Ele é, também por isso, o primeiro “europeu”. O Santo das duas cidades, dos três países (Portugal, Itália, França) e de todos os povos que cresceram inspirados pela cultura cristã. Foi o primeiro português a sonhar com África, numa cruzada de paz. Foi, podemos dizer, o primeiro grande pregador da justiça social e defensor dos direitos dos mais pequenos.
Qual o segredo de tal grandeza e popularidade? Poderemos responder, de forma breve, apontando os seguintes tópicos caraterísticos da sua pessoa e vida:
. Uma vida movida pela sede do essencial e um coração inquieto pela vontade de amar mais verdadeiramente como Ele nos amou;
. Uma paixão genuína por Cristo e pela Humanidade;
. A inteligência singular, associada à capacidade de captar os sinais de Deus na história dos homens;
. A coragem de dar os passos certos e dizer as palavras adequadas, sem medo nem cedências;
. A proximidade dos homens, sobretudo dos mais pequenos, segredo da sua popularidade
. A obediência, como Francisco de Assis, ao Evangelho, na certeza de que este ou é libertador ou é letra morta;
. Uma fé comprometida socialmente: Pregar o Reino e a sua Justiça foi a prioridade de S. António;
. A consciência de que crer em Deus e seguir Jesus implica sair: deixar casas, família, pátria, seguranças, convicções comodas; claustros, conventos e convenções…
. A generosidade de quem sabe que é dando que se recebe e é preciso perder a vida para a ganhar;
. Daí nasce a Missão: ou horizontes de vida e de ação novos e ilimitados. Se a obra de um homem ou mulher é tanto mais válida quanto mais universal, a missão é tanto mais evangélica quanto mais ecuménica. Como ensina S. António, “os pregadores são os pés de Cristo. Eles o levam por todas as estradas do globo”.
Sim, S. António foi tudo isso e muito mais. Pena que a maioria dos seus devotos conheçam apenas o seu Responso ou a sua faceta de “casamenteiro”.
Dos sermões de S. António:
«A justiça consiste em dar a cada um o que lhe pertence, depois de feito um reto juízo. Justiça é como um estado de direito. É hábito de ânimo de, guardado o bem comum, atribuir a cada um aquilo que merece. As partes da justiça são temer a Deus, venerar a religião, a piedade, a humanidade, o amor do equitativo e do bem, o ódio do mal, o empenho de prestar um favor. O mundo não possui esta justiça, porque não teme a Deus, desonra a religião, odeia o bem, é ingrato para Deus. O mundo é convencido quanto à justiça, que não praticou […]; não quanto à sua, mas quanto à dos crentes. Por comparação com a destes é que é condenado. […]
A verdadeira justiça é a fé justificante. […] A justiça dos santos é uma espécie de fio de prumo estendido sobre qualquer alma fiel, para que informe e meça a sua vida pelo exemplo dos santos. Sempre que celebramos as suas festas, aplica-se à vida dos pecadores o fio de prumo. Celebramos, por isso, as suas festas para aprendermos o modelo da sua vida. É ridículo, portanto, querer honrar os santos, nas suas solenidades, com banquetes, sabendo nós que subiram ao céu por meio de jejuns. Se, pois, ao amar o mundo e a sua glória, ao nutrir a carne com delícias, ao reunir pecúnia, não imitamos a vida dos santos, a sua justiça comprovará que devemos ser condenados». (4º domingo depois da Páscoa, nº 11; cf. 6º dom. depois do Pentecostes, nº 5).
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