03 Jun O FRADE E BISPO DO RIO SÃO FRANCISCO (Sétimo ano da Laudato Si’)
Por amor ao povo e ao rio São Francisco que era a fonte de vida para os habitantes Frei Luiz ficou conhecido pelas suas greves de fome contra um projeto que visava única e exclusivamente a utilização económica da água, em prejuízo dos povos da região. «Nunca poderíamos ter concordado com um projeto que visasse a transformação do rio para que os grandes latifúndios rurais produzissem cereais para importação. O seu objetivo era o enriquecimento de uma pequena minoria, em detrimento de toda a população”. Assim diz ‘Frei Luiz’, o nome pelo qual o bispo é conhecido no nordeste do Brasil.
“Quando comecei o primeiro jejum, em 2005, ainda não era conhecido. No início, muitos pensavam que eu era louco, mas depois a liderança da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) saiu a meu favor. Depois houve uma divisão entre aqueles que apoiavam a nossa luta e aqueles que eram contra a luta”. Assim nos resume a sua “história” Monsenhor Luiz Flávio Cappio, bispo franciscano brasileiro da diocese da Barra, que em 2005 e 2007 atingiu as primeiras páginas dos jornais brasileiros e do mundo com duas greves de fome em protesto contra o projeto do governo brasileiro de atravessar o rio São Francisco.
Em 2005, Frei Luiz iniciou a sua primeira greve de fome, que durou onze dias, tendo sido suspensa depois de ter sido assinado um acordo com o governo que se comprometia a parar o desvio do rio São Francisco e a investir uma quantia considerável para revitalizar o rio. Contudo, quando as promessas do governo não foram cumpridas com os acordos assinados, o Bispo decidiu fazer outra greve de fome em 2007. “Naquele dia eu teria 59 anos de idade. Voltei a andar depressa, mas desta vez não apanhei o governo de surpresa”, explica o Bispo Frade Menor, lembrando que “a greve de fome durou 24 dias e foi muito difícil”.
Ao 24º dia da greve de fome, o irmão Luiz perdeu a consciência e acabou no hospital, na unidade de cuidados intensivos. Quando acordou, viu-se rodeado por vários grupos, incluindo habitantes nativos, sindicatos de trabalhadores, presidentes de associações populares, professores, diretores universitários. Todos lhe suplicavam com palavras semelhantes: “Precisamos de si vivo para continuar esta luta”. Embora Frei Luiz não tivesse decidido entrar em greve de fome para morrer, mas “por amor à vida”, decidiu quebrar o seu jejum. “Percebi que era um instrumento de vida para o meu povo, para o meu povo, e assim, depois de deixar a unidade de cuidados intensivos do hospital Memorial de Petrolina, anunciei o fim da minha greve de fome”, diz o bispo brasileiro.
Recordando os inícios e motivos da sua vocação franciscana, Frei Luiz recorda confessa: “Vi em S. Francisco o homem que deu a sua vida aos pobres; vi em Francisco um homem apaixonado pela vida, pela natureza’. Imediatamente após a sua ordenação, Frei Luiz serviu nos subúrbios de São Paulo, em contacto com os trabalhadores. E acrescenta: “São Francisco falou-me ao coração e disse-me: “o teu lugar é junto dos pobres”. Sem perder mais tempo, dirigiu-se assim para a Barra através do rio São Francisco. “Quando cheguei à Barra, após cinco meses de caminhada, o bispo – que tinha ouvido falar de um frade menor que andava de comunidade em comunidade, pregando a Palavra de Deus – veio ter comigo e pediu-me para ficar na sua diocese, devido à falta de sacerdotes”.
Assim, já passaram 48 anos desde que Frei Luiz serviu na Barra, primeiro como missionário e depois como bispo. “Agora que fiz 75 anos, já apresentei a minha demissão à diocese devido ao limite de idade”, explica o bispo. Agora estou à espera do processo de nomeação do novo bispo e depois regressarei à Província. Quando tudo estiver resolvido, se Deus quiser, retirar-me-ei para um eremitério. Foi tudo obra do Espírito Santo”.
Frei Isidro Lamelas, ofm
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