IMACULADA CONCEIÇÃO

IMACULADA CONCEIÇÃO

(Homilia proferida pelo Ministro Provincial, Frei Armindo de Jesus Ferreira Carvalho na Igreja do Convento da Imaculada Conceição à Luz, Lisboa no dia 8 de dezembro de 2018)

 

Fraterna saudação a todos os presentes. Paz no Senhor.

Hoje é um dia especial para todos nós e para quantos, por este mundo de Deus, recordam a Mulher Imaculada, a “cheia de graça”, a Senhora vestida de sol, a jovem de Nazaré, pouco conhecida dos homens, mas eternamente conhecida e amada de Deus; por Ele concebida e criada com a missão de colaboradora no mistério da redenção e nova criação; escada para o descimento e abaixamento de Deus; carne humana para a carne humano/divina; serva disponível para assumir o projecto de Deus… enfim, a mulher Imaculada, a única assim concebida.

 

“Cheia de graça” é o nome mais bonito de Maria. Foi-lhe dado pelo próprio Criador, indicando que Ela é, desde sempre e para sempre, a amada, a eleita, a predestinada para acolher o dom do “amor encarnado de Deus”.

 

Aqui neste templo, casa de oração dedicado à Imaculada Conceição, a Quem é também dedicado todo o conjunto envolvente do Seminário da Imaculada Conceição à Luz, celebramos o dom de Deus em Maria Imaculada, na dedicação deste templo que completou já 50 anos de vida e serviço ao Povo de Deus. Uma obra saída da sensibilidade franciscana, no tempo em que Lisboa contava já oito séculos de “cidade franciscana”, cidade natal de Frei António de Lisboa, o nosso Santo e o Santo do mundo. Casa de oração da fraternidade franciscana que aqui vive e ponto de encontro com os demais membros desta Família, bem como de toda a Igreja, dos diariamente aqui alimentam a sua fé com a Palavra e o Pão de Deus.

 

Um templo nascido da santa teimosia franciscana, inspirado na intuição evangélica do seu fundador, S. Francisco, ambicionando, assinalar a ligação do passado com o futuro, do ontem com o hoje da arte humana e eterna, presente de Deus aos homens, e integrado no movimento artístico renovador e veloz da época.

 

Na Liturgia sagrada vivemos o tempo do Advento, com Maria a sua Mãe. Mulher da escuta e da contemplação, Maria guia-nos neste novo advento de Deus à terra dos homens. Diz-nos que o Natal de Deus é um dom; é Ele, por iniciativa de amor, que se oferece e vem. Não inventamos nada, mas acolhemos com alegria e gratidão o Dom do Alto, do Pai das Luzes. Maria está caminhando connosco neste Avento. A sua presença é um sinal da consolação de Deus, que nos encoraja e alegra a nossa esperança. Ela nos diz: “tem coragem de ousar com Deus. Tenta! Não tenhas medo dele! Compromete-te com Deus e verás a tua vida iluminada”.

 

Um Advento com Maria, a Imaculada Conceição.

Ela ensina-nos a esperar. Um esperar activo, pois envolvido em alegre certeza: Ele já veio, já está connosco para sempre, mas virá ainda de novo. E cada vinda é uma prenda para nós.

 

Para a Família, gerada em Francisco de Assis, a piedade mariana não é uma devoção secundária, mas uma veneração integrada na mística da Família. Nas suas mãos (Senhora dos Anjos da Porciúncula) teve o seu berço e o lugar privilegiado da Família: “Depois de Cristo, era em Maria que Francisco depositava toda a confiança e por isso a escolheu para Padroeira para si e para os seus” (L.L.9,3). Por isso, as festividades marianas são celebradas com grande solenidade na Família Franciscana. Assim se compreende que, desta Família, músicos e poetas tenham dedicado os seus talentos à Mãe de Cristo. S. Boaventura, contemporâneo de S. Francisco e Ministro Geral da Ordem, João Duns Escoto e, mesmo o nosso Santo António, já defendiam o privilégio da Imaculada Conceição quatro séculos antes da sua proclamação oficial pela Igreja. Pregadores franciscanos propagaram com convicção pelo povo cristão os privilégios de Maria. Foram eles que introduziram e popularizaram a Festa da Visitação, introduziram a oração do “Angelus” e acrescentaram na Ave Maria (saudação do Anjo Gabriel) a prece “rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte”. Fizeram de Maria a acompanhante maternal da nossa peregrinação terrena para o Reino do Seu Filho.

 

Maria, Senhora Imaculada, permite-me que entre com o Anjo em tua casa.

 

Ouço-O dizer-te “cheia de graça” e não “cheia de méritos”,

apenas rica da gratuidade amorosa de Deus.

Sim, diante de Deus não conta o melhor, o primeiro,

o título, o cartão visa, a influência.

Conta apenas o amor, a disponibilidade, a simplicidade, a humildade, a docilidade que se deixa conduzir pelo sopro do Espírito.

 

Tu és escolhida por Deus desde toda a eternidade:

Aquela que deslumbra Deus na Sua própria obra.

Em Ti, a criação se faz de novo, e Deus exulta ao ver que é bela.

A beleza de Deus faz-se beleza em Ti.

 

Sinto palpitar a tua escuta,

dentro de ti, aquele labor entre a graça e o acolhimento,

manifesto num medo misterioso misturado de alegria.

 

Eis-me! Faça-se!

O teu querer confunde-se com o de Deus.

Tu, Maria, és toda de Deus.

 

A imensidão de Deus escancara-se na tua pequenez e juventude.

De Ti o Criador fez a Sua Mãe e a nossa Mãe.

És a serva do Amor. De teu ventre brotará o Verbo Eterno.

És o ventre da nova humanidade.

 

O teu Sim é a Primeira Letra do Novo e Eterno Evangelho,

a Boa Nova do Amor que “não era amado”! (S. Francisco).

Paulo Duarte
secprov@ofm.org.pt
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