Franciscanos permanecem com o povo ucraniano

Franciscanos permanecem com o povo ucraniano

“Os franciscanos ficam com o povo da Ucrânia”, assegurou o Pe. Stanisław Kawa, OFMConv, presidente da Conferência dos Superiores Maiores na Ucrânia e atual bispo auxiliar da Arquidiocese de Lviv.

Efetivamente, depois da invasão do seu país por parte da Rússia, os franciscanos decidiram permanecer junto do povo da Ucrânia. Os Frades Menores OFM formam neste país uma pequena Província, em número de 60 franciscanos, distribuídos por 17 conventos, espalhados por toda Ucrânia. Ainda assim, é a presença católica mais significativa, no que toca a Ordens religiosas.

O Frei Daniel Botvina, ministro provincial dos Franciscanos OFM da Ucrânia, não pode apagar da sua mente o terror das pessoas e famílias inteiras, com crianças e idosos, ao som das sirenes, debaixo de explosões e disparos, sem saberem onde encontrar abrigo seguro. «Acompanho – diz Frei Daniel – e vou tendo notícias de todos os meus irmãos nos diferentes lugares em que se encontram. Nalguns casos falam-me de combates em curso, de violência e destruição. O avanço dos ocupantes continua imparavelmente. Primeiro, estava muito preocupado pelos nossos confrades que se encontram na cidade de Konotop, já totalmente ocupada pelas tropas russas. Mas garantiram-me que estão todos bem. Deixaram a Igreja aberta e muitos civis encontraram acolhimento, ajuda e conforto nos nossos conventos».

Frei Daniel Botvina fala de “algumas famílias com crianças que dormem no nosso convento, por terem medo de continuarem em suas casas a ouvir o ruído dos aviões e misseis voando sobre suas cabeças”.

Mostrando uma família a dormir em seus colchões sob o mesmo teto dos frades, continua: “Estamos a preparar-nos para acolher muitas mais: não fecharemos a porta a ninguém. O Ministro Geral dos Franciscanos, Frei Massimo Fusarelli telefonou-me há pouco, para saber das nossas condições e dos refugiados e para nos assegurar toda a ajuda possível”. Poucas horas após este telefonema, o número de famílias acolhidas e ajudadas já tinha aumentado.

À pergunta sobre “como evoluirá a situação?”, o Pe. Daniel responde: “não sabemos, assim como não sabemos dizer do que mais necessitaremos e como nos podereis ajudar; tudo sucedeu tão depressa: há poucos dias as pessoas andavam na rua, iam ao restaurante, as crianças brincavam… e, de repente, vimos os tanques nas ruas! Provavelmente necessitaremos sobretudo de alimentos e medicamentos. Porém, de duas coisas necessitamos desde já seguramente: de oração… tanta oração; de comunhão com a nossa gente e de nós frades com o nosso povo. Além disso, necessitamos de sentir a proximidade da Europa. Somos europeus, nos valores, na cultura, no modo de vida. Somos europeus e ocupação alguma nos fará deixar de sê-lo”.

O frade menor Pe. Romualdo Zagurskyi OFM, um dos franciscanos que decidiram continuar na cidade de Konotop, no nordeste da Ucrânia, das primeiras a ser tomadas, dava assim o seu testemunho à agência Fides: “As crianças que vêm aos nossos centros de acolhimento brincam, fazem desenhos e até esquecem que há uma guerra ao redor; alguns adultos talvez pela primeira vez na vida pegam o Terço, rezam de joelhos, aprendem a cantar cânticos religiosos e vivenciam a verdadeira paz, que não pode ser alcançada com tanques ou outras armas. Acreditamos na paz que Jesus Cristo deixou”.

Os frades do convento do padre Florian OFM, em colaboração com os voluntários e paroquianos, procuram, pro todos os meios, atenuar a ansiedade e amargura de um povo atacado sem motivo. “estamos a serviço das pessoas com a oração, o apoio, oferecendo almoço, chá quente e palavras de encorajamento”, confessa o Pe. Romualdo. O mesmo frade menor lembra que, nesta região, os bombardeamentos começaram a 24 de fevereiro, às 5h20, e a cidade de Konotop foi tomada pelo exército russo na manhã de 25 de fevereiro de 2022. Ao receberem esta notícia, continua a relatar Frei Romualdo, «muitos moradores ficaram desesperados; nossos paroquianos encontraram pessoas em pânico no meio da rua. As pessoas não paravam de chegar e tínhamos uma grande necessidade de comprar comida. Muitos idosos, sozinhos e assustados, permaneceram trancados em suas próprias casas”.

Ao testemunhar o choque provocado pela guerra, o franciscano conta que naquele momento estava em retiro com seus irmãos em Zhytomyr, onde pela manhã o aeroporto também foi bombardeado: “A pedido dos paroquianos, como pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, parti com urgência para Konotop. O nosso Convento está aberto a qualquer pessoa que tiver necessidade de proteção, abrigo ou alimentação e desde o primeiro dia recebemos 23 pessoas que passaram a noite, na sua maioria mulheres e crianças”.

Na noite de 25 para 25, continua o frade menor, “foi travada uma batalha em grande escala em nossa cidade. Alguns prédios foram incendiados e informações sobre os bombardeios e a destruição de instituições de ensino imediatamente acionaram os bombeiros. Vimos que o centro da cidade ardia, ainda durante a Divina Liturgia celebrada no nosso Convento. Agora a sala de catequese serve como local de pernoite para as pessoas e quarto de refúgio para crianças durante o dia”.

Desde então, para responder aos muitos pedidos de ajuda urgente de pessoas que fugiram da guerra, os franciscanos, “junto com os moradores da cidade, organizam recolhas de alimentos para os necessitados e compram produtos para entregá-los a quem precisa”.

Porque os tempos não estão para “propaganda”, o franciscano conclui com um veemente apelo pela paz: “Agora, mais do que nunca, é urgente o nosso carisma franciscano de levar paz e bondade onde existe inquietação, escuridão, guerra. As crianças que vêm aos nossos centros de acolhida brincam, assistem a desenhos e até esquecem que há uma guerra ao redor, e alguns adultos talvez pela primeira vez na vida pegam o Terço, rezam de joelhos, aprendem a cantar canções religiosas e vivenciam a verdadeira paz, que não pode ser alcançada com tanques ou outras armas. Acreditamos na paz que Jesus Cristo deixou, como diz no Evangelho de João (Jo 14,27): Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe o vosso coração, nem se atemorize”.

[Fr. Isidro Lamelas]

Paulo Duarte
secprov@ofm.org.pt
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